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sábado, 16 de fevereiro de 2013

CABO VERDE UMA NAÇÃO CONQUISTADORA!...

Encontrei este texto (carta) de um moçambicano falando acerca do povo Caboverdiano e a recente participação histórica dos nossos Tubarões Azuis na CAN (Campeonato Africano das Nações) e não podia deixar de compartilhar! Então aqui vai (ipsis litteris):    

Maputo, 06 de Fevereiro de 2013   

Tubarões Azuis...   

Laboram num equívoco os que dizem que, graças à prestação dos Tubarões Azuis no CAN 2013, a República de Cabo Verde saiu da obscuridade. Errado! E estão errados os que assim pensam porque com a sua morabeza aquelas ilhas atlânticas são por demais conhecidas em todo o mundo.


Por outro lado, desde o tempo colonial que o Homem de Cabo Verde se viu forçado a emigrar para melhorar o seu rendimento financeiro para dar boa qualidade de vida a si próprio e à sua família. E o emigrante de Cabo Verde é o exemplo mais paradigmático do Homem que deixa a sua terra natal em busca do sucesso. 

Ele não emigra para perder ou continuar a levar uma vida sacrificada em casa.  Encontramos pessoas de Cabo Verde em Portugal, na Holanda, Estados Unidos, França e um pouco por todo o mundo e aqui em Moçambique, durante o colonialismo, na agricultura, como funcionários do Almoxarifado da Fazenda Nacional, na Administração Civil e nos Caminhos de Ferro como escriturários e operários. 

Eu conheci, em Nampula, o saudoso Borges, latagão como só uma torre pode ser, bem musculado, só falava crioulo, canhoto fogueiro dos Caminhos de Ferro, bom na dança, no prato, no copo e no soco também.  Ciosos e orgulhosos da sua cultura morabeza, ei-los sempre unidos com a cachupa pretextando mais um convívio regado a vinho e digerido com forte grogue e temperado com mornas e uma coladeiras dançadas por crianças nascidas em Moçambique e que, sem nunca terem estado na mãe Pátria, são boas executantes das danças nativas de Cabo Verde porque os seus pais têm o cuidado de – a par de as obrigarem a conhecer a cultura do País hospedeiro – nunca deixarem de se sentirem indígenas da terra da grande morabeza.  

O Homem de Cabo Verde está habituado a vencer as adversidades mais agrestes que o quotidiano lhe impõe, transformando-as em desafios que, paulatinamente, as vai vencendo.  Face a esta postura de Homem sofrido, mas vencedor porque com determinação sabe para onde quer ir, não nos admiremos que um modesto controlador de vôos, utilizando as suas horas de lazer, tenha empolgado o ego daqueles 11 rapazes, tendo-os convencido que eles eram afinal tão grandes e capazes como qualquer grande jogador africano renomado.

Parabéns Lúcio Antunes, grande seleccionador treinador dos Tubarões Azuis.  O primeiro sinal de que não estavam naquela cruzada futebolística continental africana para brincarem foi que, sem exigirem recursos extraordinários que Cabo Verde não possui, jogaram a bola por amor ao futebol, ao desporto, à morabeza e à Pátria. E quando um atleta assume esta atitude não existem Samuel Eto que resistam e os Camarões foram eliminados e convencidos que em futebol não há vencedores pré-destinados. 

E foi o que vimos quando calaram os Bafana Bafana, assustaram os marroquinos, impondo-lhes um empate e deram forte “kuduro” às Palancas Negras, mandando-as mais cedo que o previsto para a sua savana.   Outro sinal indicativo de que eram verdadeiros guerreiros é a humildade caracterizante daquela seleção.  Aqueles jovens apesar de estarem gradualmente a acumular fama em pouco tempo, jamais perderam a sua cativante postura humilde.  

E tem outra arma perigosa que a equipa nacional de Cabo Verde sabe esgrimir com mestria: a unidade. Quando o denominador comum de um grupo é a unidade este colectivo torna-se invencível. Não nos esqueçamos que unidos vencemos grandes exércitos durante a nossa Luta para Libertar Moçambique do jugo colonial. Uma família unida jamais será vencida!  

Mas tem outro aspecto que importa não descurarmos naqueles Tubarões Azuis: o colectivismo. O colectivo sempre se impôs ao jogador mais craque. Jogam um futebol de conjunto em que ninguém quer aparecer para sobressair sozinho. Atacam em colectivo e é deste modo que defendem e organizam o meio campo, sempre em conjunto.  Alguns nos admiramos por este sucesso na arena do futebol de Cabo Verde, mas se assim agimos é porque nos esquecemos – muito depressa lamentavelmente – do ensinamento de Samora Moisés Machel, segundo o qual “a vitória organiza-se! a vitória prepara-se”.  

Este sucesso no futebol jamais poderá estar desassociado dos sucessos que a economia de Cabo Verde vem registando na pós-independência. Com efeito, os alicerces do sucesso de Cabo Verde no domínio da macroeconomia, encontra-se fundado num sistema educacional visando criar quadros capazes para gestão do País a médio e longo prazos. Não encontramos naquele Pais insular atlântico campanhas de educação sazonais ou esporádicas. Deparamo-nos, sim, com programas com continuidade e delineados tendo o futuro como horizonte.  

Por outro lado, o Governo de Cabo Verde estimula com mecanismos e benefícios práticos imediatos a que todo o centavo poupado pelo emigrante nacional seja trazido para o País aonde o mesmo é bem enquadrado pelo sistema bancário e financeiro nacionais. Tais incentivos são, por exemplo, taxas de juros bonificadas nas operações ativas e passivas, isenção de impostos sobre as mesmas, preços subvencionados pelo Governo para os materiais de construção adquirido pelos emigrantes.  

Portanto, o sucesso ora registado pelos Tubarões Azuis são o reflexo desta atmosfera macro-económica tendencialmente a melhorar todos os anos. Afinal o primado da economia sempre se sobrepõe sobre o resto da sociedade.  

Quanto ao afastamento dos Tubarões Azuis do CAN, gostaria de me referir que a CAF pecou ao ir buscar um árbitro principal de uma aldeia algures nas ilhas vizinhas e juízes de linha oriundos de países em que o futebol não está desenvolvido nem é bem-sucedido. Lembremo-nos da compleição física do árbitro principal, propenso a ter gorduras excedentárias, denotando falta de agilidade e hábito de ajuizar regularmente partidas de futebol no seu País. Foi triste aquele penalte contra Cabo Verde. 

Manchou o futebol aquelas faltas perdoadas aos ganenses e sempre severamente mal aplicadas aos adversários.  A turma do Gana estava ao alcance dos bravos rapazes de Cabo Verde que jogam em coordenação, bem comunicados entre si, em que a colaboração, a complementaridade e a solidariedade fazem escola naquele brioso grupo.    

Bem hajam Tubarões Azuis!  Parabéns Cabo Verde, País da grande morabeza!

ASSINADO:  António Alberto Paulo Matabele  Maputo  Moçambique.

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